Por que nas últimas eleições em média 2 milhões de cearenses não escolhem um candidato a governador?

Alto índice de abstenção se manteve estável nas últimas disputas eleitorais no Estado

Foto: Thiago Gadelha

Desde a eleição de 2010 cerca de 2 milhões de cearenses, em média, decidiram não escolher um candidato nas eleições. Esses eleitores não votaram sequer em um nome para o Governo do Estado. Os casos são de cidadãos aptos a votar, segundo a Justiça Eleitoral

O índice que mais chama atenção é o da abstenção. Em 2014, por exemplo, mais de 1,2 milhão de eleitores não foram às urnas. O pleito também foi o de maior quantidade de voto em branco nesse intervalo de 12 anos, com 303,4 mil, enquanto foi contabilizado 438.492 mil nulos.

Já em 2018 o “destaque” foi para o voto nulo, com 672,9 mil – representando quase 13% do eleitorado do Estado. 

A soma da abstenção, do voto branco e do nulo apontam uma média de 35% dos ausentes na escolha de um nome para governar o Estado do Ceará. O percentual se repetiu nas eleições de 2010, 2014 e 2018. 

Os dados foram levantados pelo Diário do Nordeste com base em informações do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) correspondente ao primeiro turno dos últimos pleitos. 

A Flourish chart

IMPACTOS 

O índice dos que optam por não escolher uma candidatura de governador(a) é relevante para uma disputa no Executivo. Com base nas últimas eleições, o percentual é suficiente para levar uma candidatura ao segundo turno, por exemplo. 

No Brasil, o voto é obrigatório e rende penalidades para quem se exime de participar do processo (no caso da abstenção). Além das punições, há impedimentos previstos na legislação. 

  • A impossibilidade de solicitação de passaporte ou carteira de identidade; 
  • Receber vencimentos, remuneração, salário ou proventos de função ou emprego público; 
  • Participar de concorrência pública ou administrativa da União, dos estados, dos territórios, do Distrito Federal, dos municípios ou das respectivas autarquias; 
  • Obter empréstimos nas autarquias, nas sociedades de economia mista, nas caixas econômicas federais e estaduais, nos institutos e caixas de previdência social, bem como em qualquer estabelecimento de crédito mantido pelo governo; 
  • Inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou função pública, e neles ser investido ou empossado; 
  • Renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo; 
  • Praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda; 
  • Obter certidão de quitação eleitoral 

DESMOBILIZAÇÃO 

O professor e cientista político da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cleyton Monte, aponta que os dados da alta abstenção não são novidade no País. Segundo ele, há um percentual histórico desse tipo de eleitor que não se preocupa com o processo eleitoral. 

“Você tem uma média histórica que tem esse percentual. Quando a gente pega o resultado de uma eleição isoladamente a gente fica chocado, mas se comparar com outros países vamos ver que tem esse percentual de eleitores que não entra nesse debate”, pontuou. 

Além das abstenções, o índice de nulos e brancos chamam atenção. O professor ressalta pontos que podem ter influenciado essa postura do eleitor nas últimas disputas. 

Manifestações de rua, operação Lava Jato, impeachment, denúncia de corrupção nos ministérios e rachadinhas são assuntos que dominaram o noticiário político nos últimos anos. 

Tudo isso cria uma atmosfera para muitos grupos de eleitores de antipatia, e isso acaba impactando nas eleições. Muita gente acaba se eximindo de participar, acaba optando por ninguém porque acredita que é o mesmo jogo. Eles não acreditam que não há diferença entre os candidatos, que é tudo a mesma coisa, sentimento de demonização da política

CLEYTON MONTE

Cientista político da UFC

Fonte:https://diariodonordeste.verdesmares.com.br

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